quinta-feira, julho 31, 2008

O CAUSO DA CAPITAR

inspirado no filme Tapete Vermelho... uma homenagem ao gde Mazzaropi...



“Inda largu docê Bartazá... Ah, inda largu mêmu!”, resmungou Gorete. “Num dianta isbravejá muié. Tá dicidido! Vamu prá capitar prá módi o mininu istudá, prá num sê um caipira zé-ninguém qui nem nóis. U mininu é teligenti, mais tá cum oito ano e inda num sabe lê i iscrevê direitu. Num quero qui eli seje um jeca e as pessoa fiqui caçoando du jeito deli. Eli aprindeu muuuita coisa sózim, mai agora tem qui ir pra iscola aprinder mai poxa! Eli num vai sê anarfabeto qui nem nói sômo. Num vái naum!”. Baltazar era cabra-homi decidido. Mas Gorete era marrenta demais da conta. Não dava o braço a torcer. “Êia Bárte, aqui nói têmo nossa terrinha, prantemo inhâme, mío, temo nossa lavôra, nossa hortinha, criemo porco, galinha e têmo dezasseis vaca leitêra. Tem us pêxe na represinha qui nóis pesca. Fugão di lenha invêis di cumida di quilo. U qui farta pro mínimo diacho?” Realmente a vida no campo era muito tranquila. Mas apesar de sossegada, era puxada. O trabalho na roça era cansativo, não sobrando muito tempo para diversão. Também não tinham energia elétrica, muito menos televisão. Dormiam cedo para agüentar o dia de trabalho. Acordavam antes do sol raiar para tirar leite, cuidar das criações, da lavora, consertar o que quebrasse e vender o excedente da produção no vilarejo mais próximo. Normalmente trocavam o excedente no armazém pelo que necessitassem. A vida não era fácil. “Mai u mininu tem di istudá muié! E otra, eli num cunhece a ciudadi grandi. Nunca foi num parque di diversão, nunca cumeu cachorru quenti, hamburgui, pipóca, num sábi u qui é rifrigeranti di coca-cola, nunca viu xópi-cênti, cinema, tiatro, museu e zológi. U mininu num tem curtura Gorete! Curtura! É um bocó di mola!”. Mas a mulher era osso duro de roer. E continuava ameaçando deixar os dois para morar no sítio da sua prima Ogusta, caso deixassem a vida na roça. “Ucê divia di insiná u mininu a lidá cum a inxada, samiá a terra, dar sal pros boiê, amiá us porco, pescá pêxe cu cóvo, afincá cerca nu piquête e cunsertá o currar. Nói vamo pra capitar e vamu morá adonde? Dibaxu da ponti? Vamo trabaiá adonde? Cê nunca trabaiô na vida ómi! Quem qui vai dá imprego prum caipirão veio feito ocê?”. “Ara Gorete, dêxe di prosa! Vamu rendá as nossa terra qui nóis arrecebemu di herança do finado Vô Manéco. Coloquemu a matalotage nu lombo du burro, u minino vai amuntado e bâmo de apé até Sum Paulo, precurando lugar pra poisá nu caminho mesmo. Procê num recramá, pudemo inté passá na eigrêja di Nossa Sinhora Paricida pra bençoá nossa viage antis di nóis apiá nu Sum Paulo. Pensa Gorete, u minino pode avirá dotô ou inté dilegadu. Ocê vai vê muié!”. “A pois, num sáiu da minha terrinha por nada nêssi mundo, Bárte. Nem qui nóis fosse di jardinera pra capitar. Sunto incerrado. E pára de acoçá o mininu, num ingüento mais! Largo docê si ocê ficá cum essas bobiça dinovo!”. Foi aí que Baltazar estressou. A mulher estava passando dos limites. “Gorete, apegue a bassôra de piaçava i vai fazê seu sirviço, vai! Num mi dêxe arremiado. Tá dicidido! Chega di pendenga, ocê vem cum nóis, num tem iscôia! Pense nu futuru do seu fio muié! E pare di mi azucriná óra! Dêxe eu cochá i pitá minha páia sussegadu... Diaba! Cú di boiê!”.

Roberto Mac Intyer Simões


quinta-feira, julho 17, 2008

URUBU TÁ COM RAIVA DO BOI


Urubu tá com raiva do boi,
E eu já sei que ele tem razão
É que o urubu tá querendo comer
Mais o boi não quer morrer
Não tem alimentação

O mosquito é engolido pelo sapo,
O sapo a cobra lhe devora.

Mas o urubu não pode devorar o boi:
Todo dia chora, todo dia chora.

Gavião quer engolir a socó,
Socó pega o peixe e dá o fora.

Mas o urubu não pode devorar o boi,
Todo dia chora, todo dia chora.