Por Dermeval Simões
Publicada no Jornal “O Imparcial” de Araraquara em 30.06.85.
Coisas da vida, difíceis de serem explicadas. Eu, nacionalista por convicção, como só em ser todos os brasileiros, com mais de 200 anos, tendo netos com êsse patronímico!
Valeu, como dizem os moços! O fato é que inserto está, como sobrenome de dois netos meus êsse Mac-Intyer: Roberto Mac-Intyer Simões e agora, novinho em folha, o Thales Mac-Intyer Simões.
A resposta para êsse aparente estranho nome é, em verdade, muito interessante.
Eu sou Simões, pelo lado paterno. Meu avô materno era Pereira de Mendonça. Minha mulher é Vargas da Silva, pelo lado paterno. Aliás, não seria Vargas da Silva não fosse a facilidade encontrada antigamente, há mais de cinqüenta anos, para se alterar o nome da gente.
Meu sogro, muito conhecido nesta cidade, chamava-se Benedito Vargas da Silva, o “velho” Vargas, carinhosamente assim chamado.
Chamava-se não, chamou-se, por vontade própria, alterando o seu nome, por desgostá-lo e de lambuja aproveitou e alterou o próprio nome familiar. Descendente de brasileiros da Aparecida do Norte, onde nasceu em 1881, filho do não menos famoso e ate hoje lembrado Antonio Mariano De Oliveira e Silva, o Seu Vargas foi registrado como Benedito Adrião de Oliveira e Silva. Ao atingir a puberdade não agüentou mais as brincadeiras dos colegas que o tratavam por Agrião, verdura por demais conhecida por aquelas bandas, e um dia resolveu colocar um paradeiro às chacotas dos moleques e simplesmente trocou o nome e passou a chamar-se Benedito Vargas da Silva.
Mas, voltando aos Mac-Intyer, o meu filho Paulo Roberto foi descobrir êsse apelido, no registro de sua avó, aliás minha sogra, muito querida Carolina Mac-Intyer, mineira de bôa cepa, natural de Campanha, Minas Gerais.
Vejam como surgiu êsse americano na família da Dona Ana, mais conhecida como Beata, avó materna de minha esposa.
Willian Duncan Mac-Intyer, êsse o nome completo do americano, descendente de irlandezes, que aí pelo ano de 1870 aportou no Rio de Janeiro, para nunca mais voltar à sua terra.
Contava Da. Carolina que seu pai era um homem muito alegre, gostava de aprontar brincadeiras, caçador emérito, era palhaço de circo nas horas de lazer e a sua profissão era a de seleiro, sabendo inclusive embalsamar os animais caçados, como onças e macacos.
Com esse espírito e com apenas quatorze-quinze anos, brincava um dia com sua mãe, numa pequena cidade, que dizem chamar-se Carolina, no estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, quando, não se sabe como, um bode grande deu uma violenta cabeçada nos fundilhos da velha, jogando-a dentro de uma tina de levar roupa, cheia de água e sabão. O moleque Willian, grande gozador, no lugar de socorrer sua assustada mãe, caiu na maior gargalhada de sua vida. E riu tanto, tanto, que exasperou a mãe, a qual tomada de ira, ameaçando-o com uma surra. Este quando percebeu a braveza da mãe, não teve duvidas, “perna pra que te quero”. Correu sem parar alguns minutos, até ter a certeza de haver escapado impune. Aí êle resolveu não mais voltar prá casa e continuou andando sem destino até chegar num porto marítimo, onde conseguiu embarcar num navio, como trabalhador. Desembarcou no Rio de Janeiro e, embevecido pela beleza da terra não retornou ao barco. Passado algum tempo, já dominando o idioma português, engaja-se num circo e quando chega à cidade de Campanha, no sul de Minas, desligou-se da lona e ali permaneceu para o resto de sua vida. Casou-se com a Beata, teve seis ou sete filhas e um só filho, falecido prematuramente.
Vejam vocês, como se operam as transformações nominais. De Oliveira e Silva para Vargas e onde havia somente Simões, agora surgiram os Mac-Intyer.
Que Deus os proteja e eles possam como o tataravô, serem dois grandes palhaços, a espargirem alegria, muita alegria e risos descontraídos e sinceros, neste mundo tão triste de hoje.
FORA DA INTERNETE
Há 7 anos