Ao final, sentiram pena do coitado. A “sentença” foi cruel demais para o pobre rapaz. Apesar do ódio, e da brutalidade de seus atos, percebia-se o arrependimento em seu coração e a insônia que o consumia dia após dia. Afinal, o crime foi no fundo um ato de subsistência. Sim, a motivação era viver. Sem avareza, lascívia. Mas com dignidade. Porém o tiro saiu pela culatra. Ele queria esquecer, mas suas lembranças, vindas em forma de pesadelos, não o deixavam em paz. Ele não tinha mais vida. Tornou-se uma pessoa perturbada. Uma pessoa consumida pela sua própria mente insana. Peritos recomendaram tratamento psiquiátrico, pois a prisão não o livraria de si mesmo. Mas não deram ouvidos. E o julgamento se estendeu, por dias, meses e anos. Ninguém se importava com ele. Autoridades negligentes e hipócritas não chegavam a um veredicto. Vieram recursos e mais recursos, e o processo não se finalizava. O coitado não merecia isso. Seus parentes o abandonaram. E não foi por menos. Ele havia se tornado um mau caráter sem escrúpulos. Estava estampado na manchete do jornal! Abandonado em uma cela, mergulhado em seu passado, sem chance de recomeçar sua vida, ele foi provando pequenas doses do inferno na cadeia. O coitado merecia isso? Depois do crime que ele cometeu, lógico que merecia! Merecia até coisa pior, disse um sujeito na televisão. Mas poucos perceberam que a mais cruel e desgostosa sentença estava em sua própria mente já sem brilho, ofuscada em um passado sombrio. A motivação de viver se foi. Da mesma forma que se esvai da mente de todos que perdem o brilho, sejam estes criminosos ou não. O fundamental é não perder o brilho, independente de nossos tenebrosos passados. E viver cada dia como se fosse o último, mesmo que a masmorra não nos aguarde.
Roberto Mac Intyer Simões
30/12/2007
Um comentário:
Big Gato! Bem-vindo ao clube dos micro-contistas! Espero que isso nao pare por aqui...Com pequenas doses vamos contar muita coisa aqui na net! Valeu! Conta mais...
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