Lembro-me bem do meu primeiro baile. Foi no Clube Araraquarense, eu acabava de fazer 14 anos. Já tinha ido à boate várias vezes acompanhar minha irmã, mesmo sendo menor do que a idade permitida. Mas aquele era meu primeiro baile. Coisa de gente grande! Combinei com alguns moleques do futebol para irmos juntos. Eu ainda não tinha uma “turma”. E o pessoal concordou. Cheguei com meus pais e minha irmã, e dispersei-me deles logo na entrada para procurar meus novos amigos. Logo os achei num canto escuro. Me senti o maioral. Todos pareciam felizes com minha presença. Chamavam-me de Simões. Os “filhinhos de papai” do clube tinham este costume, pois o sobrenome diz de quem você é filho. Obviamente, sobrenome importante, garoto importante. Perguntaram se o baile estava bom e eu disse que sim, que estava ótimo! Um deles disse que estava uma merda, porque a cerveja estava quente. A maioria da turma tinha entre 14 e 16 anos. Bebiam e fumavam demais. Alguns tinham costume de ir aos bailes de carro, apesar da pouca idade. Logo comentaram sobre um deles que estava para chegar dirigindo o carrão do pai. E a conversa recomeçou normalmente. Não lembro sobre o que diziam. Mas nada importante. Mulheres, futebol... Nada que me surpreendesse. E não demorou muito para as meninas chegarem. Estavam todas no banheiro fofocando. Todas super produzidas, maquiadas, cabelo escovado e roupas de marca. Escandalosas. Todos as notavam, além de serem bem bonitas. Logo um dos garotos me pergunta: “Simões, de que marca é sua pólo? Acho que tenho uma com este cavalinho!” Respondi que não sabia. Alguns riram. Não sabia o que fazer. Estava tenso. Que pergunta imbecil! Depois, o mais folgado da turma perguntou do meu sapato. Um mocassim marrom, o único sapato que eu tinha na época. Comprei-o um número maior e usei-o até meus pés não entrarem mais. Todos caíram na gargalhada. Fiquei inerte. Não esperava tanta mesquinharia. Uma das meninas me puxou e me levou até a escada em frente às quadras de tênis, um dos locais utilizados para se namorar. Disse que lamentava o ocorrido, que os meninos da turma eram tontos e que ela não agüentava mais aquilo. Só que não podia fazer nada, nem ignorá-los, porque não queria se rebaixar e começar a andar com outra turma. Aquela era a turma dos “mauricinhos” e “patricinhas”. Agradeci, ela me abraçou, levantei e saí sem rumo. Decidi a partir daquele momento que não queria ser daquele jeito. Foda-se de quem você é filho e o que você veste. Eu procurava uma turma. Mas não qualquer uma. Procurava pessoas que pudessem acrescentar algo na minha vida. Lembro-me bem de meu pai ensinando isso, e que devemos sempre procurar pessoas melhores e maiores que nós. Que dificuldade que tive de achá-las! Perambulei sozinho no baile até tarde da madrugada. Conheci várias pessoas desinteressantes. Saí do baile super chateado. Tempos depois, descobri que a garota foi super “zuada”, porque acharam que ela tinha “ficado” comigo. Mas tenho certeza que ela não se arrependeu de ter me protegido. Ela também era diferente deles. Não socialmente falando. Mas tinha um jeito mais humano. Em meu
debut, aprendi umas das grandes lições da minha vida: ter humildade e respeitar o próximo, independente de cor, raça ou credo. Além disso, aprendi a me portar, impor respeito. Depois deste dia, ninguém mais “tirou onda” da minha cara. Sem uso de violência. No final das contas, valeu a pena!
4 comentários:
Interessante e notar que voce nao dancou no primeiro baile.
Bigato..amanhã só depois das onze...tenho que dar aula em outra cidade..., Mas sabado vira . estou devendo.
Abraços.
AS
e eu era de américo, ahahahah virei grindcore na hora. sou grato por essa galera.
Hei Kevin Arnold!
tá assistindo anos incríveis demais! rsrs
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