quarta-feira, janeiro 30, 2008

SERES HUMANOS



Dizem que somos seres racionais. Super inteligentes, os mais evoluídos de todas as espécies existentes. Dominamos o planeta, sua fauna e flora. E o destruímos sem escrúpulos. Mas, somos inteligentes, portanto... Somos dominantes! Por vontade divina ou seleção natural, o mundo gira em torno dos humanos. Todavia, apesar dessa inteligência, racionalidade e superioridade toda, somos os seres mais afetivos e maternos do mundo. Criamos laços que não se quebram jamais. Inventamos o amor, o romantismo e a dor, o sofrimento. O fato é que construímos família e nos apegamos a ela. Nossa família é o retrato de nossas vidas. Mas nem sempre a vida é assim. Alguns animais matam seus filhotes mais fracos ou defeituosos. Cachorros, ursos, lobos, baleias, dentre outros, se comportam desta maneira. Não deixam os filhotes rejeitados amamentar e se aquecer. Alguns chegam a comê-los por puro instinto de sobrevivência. Somente os mais fortes são aptos a enfrentar as adversidades e perigos, e tem a chance de viver e proliferar suas espécies. Já em nosso meio o comportamento é diferente. Dedicamos maior cuidado e afeto para com os deficientes. Seja a deficiência mental ou física. Muitas pessoas vivem em função de parentes ou desconhecidos, numa atitude louvável de beneficência. Dão amor, carinho, fazem trabalho voluntário. Este é o espírito de maternidade. Não estou dizendo que os deficientes devem ser mortos e que não deve se existir compaixão. Somente estou fazendo algumas comparações e observações. Lógico que tudo tem limite. Existem pessoas, por exemplo, que desejam “criar” filhos que nascem anencéfalos. Nutrem esperanças absurdas. E não abandonam a fé de que um dia receberão de volta todo o amor despendido. Nenhum outro animal se dá ao luxo de se comportar desta maneira. Estes são os seres humanos. Os seres mais afetivos, sensíveis e maternos do mundo.

sábado, janeiro 19, 2008

LEITO DE MORTE



Sentiu uma forte dor no peito. Aguda, sufocante. Não era a primeira, nem a segunda vez. Na verdade aquilo o incomodava à alguns dias. A guerra o atormentava. Sua família dizia que ele não tinha condições físicas nem psicológicas para enfrentar momentos como aqueles. No fundo, sabiam que ele não iria voltar. Mas guerra é guerra, e ele foi recrutado para defender a bandeira de sua nação. E após anos e várias vezes entre a vida e a morte, resolveu finalmente se tratar. Percebendo que estava entre a vida e a morte, renunciou e encostou seu fuzil pela ultima vez. Rapidamente foi internado no ambulatório de sua frente de batalha. Deram-lhe remédios e sedativos. Morfina. Muita morfina. E em um estalo de lucidez, em meio aqueles vários dias a esmo, perguntou ao médico: - Doutor, vou morrer? Não houve tempo nem de ouvir a resposta. Caiu novamente no mundo do subconsciente. Dizem que, para muitos, os últimos segundos da vida duram uma eternidade. Toda nossa vida é lembrada como se fosse um flashback. Dos piores aos melhores momentos. Momentos felizes, vergonhosos, gloriosos, enfim, momentos marcantes, inesquecíveis. Para este soldado ferido em combate não havia de ser diferente. Pensou em sua família, escola, amigos e na guerra. Refletiu sobre a merda de vida que viveu. Sobre a merda de guerra que serviu. Nas vidas que tirou. E chegou à conclusão que a melhor coisa que lhe poderia acontecer era realmente ir para o céu. Mal sabia ele que pessoas de sua estirpe não tinham lugar no céu. Mal sabia ele que o céu não existe. E em seu leito de morte, chorou por tudo que fez. Entendeu porque mesmo sedado sentiu uma forte dor no peito: o arrependimento. “Faria tudo diferente!”, pensou. Mas já era tarde. Sua vida já havia passado, e seu fim estava próximo. Realmente, estes foram os segundos mais longos de sua vida. E os mais conturbados.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

DEUS E O DIABO


Criamos Deus, o ser supremo, espírito infinito e eterno, criador e preservador do Universo. Jesus Cristo, Alá, Maomé, Zoroastro, Amon-Rá (deus do Sol), Thor (deus do trovão), Oxum (deusa dos rios), Afrodite (deusa da beleza), Shiva (deus da criação e da destruição), Buda (se é que pode se dizer que Buda é deus). Todos são igualmente Deus, nem mais, nem menos. Criamos Deus pela nossa própria natureza humana de depositar em alguém (ou algo), a fé de que o universo é regido por algo superior, supremo por definição.
Criamos também o Diabo, o Senhor das Trevas. Lúcifer, Demônio, Sete-Pele, Besta, Anjo Decaído, Satanás, Gramunhão, Coisa-ruim, Capeta, Cão, Belzebú. Chame-o como preferir. Tem chifres, rabo pontiagudo e anda com um tridente na mão. Tudo de mal, de obscuro que acontece no mundo é culpa desse cara. Conspirações, traições, até mesmo tsunamis são pura e simplesmente coisas do Capeta!
O que não percebemos é que somos nós, seres humanos, a imagem e semelhança de Deus e do Diabo. Isso mesmo, nós somos Deus e o Diabo encarnados. Um andando ao lado do outro, se amando eternamente. Dois antônimos convivendo pacificamente em um mesmo corpo, controlados por uma mente insana e devota ao mesmo tempo. O que sei é que tem gente que se acha o todo poderoso. E tem outros que são o capeta escarrado. E sei que se quisermos estimular o mal, o fazemos, tal como fazemos o bem. Contradição? Sei lá! Tem gente que acredita em tanta coisa...

terça-feira, janeiro 01, 2008

O TRUQUE DO OVO


Cristóvão Colombo era tido como uma farsa. Deve ser por isso que existem tantas dúvidas e controvérsias sobre suas viagens e conquistas. Era tido como o maior navegador de toda Espanha, mesmo que sua origem seja indefinida até hoje. Acreditam que era português. Falava latim e hebraico, além do castelhano e do português, e tinha conhecimentos em matemática, física e astrologia. Era tido como mentiroso e conspirador, pois vivia em conluio com outras nações, vendendo falsas informações da Coroa Espanhola e beneficiando quem bem entendesse, sendo ajudado pelo italiano Américo Vespúcio. Em um determinado banquete, já com sua fama estabelecida devido à conquista da América, sugeriu que todos os presentes tentassem colocar um ovo em pé. O questionamento ocorreu pois um convidado ciumento perguntou se ninguém conseguiria chegar à América se Colombo não tivesse chegado lá. Muito persuasivo, conseguiu a atenção de todos. O charlatão em ilusionismo amassou suavemente o lado bojudo do ovo e colocou-o em pé. Mas todos descobriram sua artimanha. “Qualquer um consegue desta forma!”, gritou um convidado mais exaltado. Sempre muito inteligente, ele respondeu : "Uma vez eu mostrei o caminho ao Novo Mundo, qualquer um poderia segui-lo. Mas alguém teve antes que ter a idéia. E alguém teve depois, que decidir-se a colocá-la em prática”. Apesar de sempre se sair muito bem de questionamentos, e tirar proveito de tudo, mal sabia ele que o “truque do ovo” é uma pratica oriental milenar. E não se tratava de um truque. No primeiro dia da primavera, conseguimos equilibrar um ovo, colocando-o em pé. Até mesmo Einstein duvidou dos orientais, dizendo ser aquilo um truque. Mas definitivamente não era. No equinócio da primavera, devido à posição da Terra em relação ao Sol, a força da gravidade é favorável ao equilíbrio. Não é por menos que o dia 23 de Setembro é o “Dia do Equilíbrio” no calendário chinês. Hoje, sabe-se que em qualquer dia é possível se equilibrar um ovo, porém, por um curto período de tempo e com certa dificuldade. Dia do Equilíbrio. O dia que contrariou um dos maiores gênios do mundo. O “truque” que quase envergonhou o ilusionista picareta que descobriu por acaso a América.

Roberto Mac Intyer Simões
01/01/2008

A ESTRELA-DO-MAR


Um garoto, que morava a beira-mar, ia à praia todos os dias ao nascer-do-sol e lançava uma “mãozada” de areia ao mar. Uma atitude muito estranha para todos que observavam a cena. O garoto não deixava sequer um raio de sol incidir no chão, e lá estava ele correndo por toda a enseada. Diziam que era deficiente mental. Mas o garoto era ágil, esperto. Inventaram que ele sofria de depressão. A mesma que separou seus pais. Mas na verdade, ele era um garoto inteligente, que sofria por não ter muito o que fazer naquela pacata vila de pescadores. Queria fugir dali, cursar faculdade e subir na vida. Tinha seus sonhos. Seu pai era pescador de família e sua mãe dona-de-casa por falta de opção. Ambos não sabiam ler nem escrever. Não havia escola na vila. Não conheciam a cidade grande. Poucas vezes tinham saído da pequena praia donde tiravam o sustento de gerações e gerações. Viviam na miséria, isolados do mundo. Mas não reclamavam. Havia a fartura de peixes que Deus lhes dera. E sabiam que em breve conseguiriam tudo que sonhavam. A fé os permitia viver ali. Mas o menino não queria ser pescador, o que irritava seu pobre pai. Somente sabia correr pela praia e sonhar. Convenhamos que muito mais alto e com mais fé que seu pai. E o fato se repetia, sempre que o garoto tinha disposição, pois tempo não lhe faltava. Até que um dia um velho curioso que morava nas redondezas e observava sua a rotina matinal o indagou, querendo saber porque todos os dias ele tinha o hábito de correr por toda a enseada. O garoto respondeu que salvava as estrelas-do-mar. Com o movimento das ondas e a ação das marés, as estrelas ficavam presas areia e com o tempo ali morriam por desidratação. Ele as retirava antes que elas morressem com o sol forte do verão, dando a elas novamente a vida. O velho ficou pasmo. Com tantas praias e estrelas-do-mar por este mundo afora, que diferença faria o garoto? Chegou a pensar que ele era realmente retardado. O que representa uma estrela-do-mar na vida deles? Infelizmente, o velho homem não percebeu que pequenos atos podem salvar vidas. Que podemos fazer a nossa parte. E que gestos simples nos tornam importantes para alguém e para si mesmos. Ele nunca tinha ajudado o próximo. Diziam que tinha problemas com a bebida. Era rejeitado pela comunidade. Mas não tinha culpa de sua ignorância. Afinal, a vida o tinha moldado daquela forma. Bruta, sem nenhuma lapidação. Ignorante por opção.

Roberto Mac Intyer Simões
31/12/2007