Um garoto, que morava a beira-mar, ia à praia todos os dias ao nascer-do-sol e lançava uma “mãozada” de areia ao mar. Uma atitude muito estranha para todos que observavam a cena. O garoto não deixava sequer um raio de sol incidir no chão, e lá estava ele correndo por toda a enseada. Diziam que era deficiente mental. Mas o garoto era ágil, esperto. Inventaram que ele sofria de depressão. A mesma que separou seus pais. Mas na verdade, ele era um garoto inteligente, que sofria por não ter muito o que fazer naquela pacata vila de pescadores. Queria fugir dali, cursar faculdade e subir na vida. Tinha seus sonhos. Seu pai era pescador de família e sua mãe dona-de-casa por falta de opção. Ambos não sabiam ler nem escrever. Não havia escola na vila. Não conheciam a cidade grande. Poucas vezes tinham saído da pequena praia donde tiravam o sustento de gerações e gerações. Viviam na miséria, isolados do mundo. Mas não reclamavam. Havia a fartura de peixes que Deus lhes dera. E sabiam que em breve conseguiriam tudo que sonhavam. A fé os permitia viver ali. Mas o menino não queria ser pescador, o que irritava seu pobre pai. Somente sabia correr pela praia e sonhar. Convenhamos que muito mais alto e com mais fé que seu pai. E o fato se repetia, sempre que o garoto tinha disposição, pois tempo não lhe faltava. Até que um dia um velho curioso que morava nas redondezas e observava sua a rotina matinal o indagou, querendo saber porque todos os dias ele tinha o hábito de correr por toda a enseada. O garoto respondeu que salvava as estrelas-do-mar. Com o movimento das ondas e a ação das marés, as estrelas ficavam presas areia e com o tempo ali morriam por desidratação. Ele as retirava antes que elas morressem com o sol forte do verão, dando a elas novamente a vida. O velho ficou pasmo. Com tantas praias e estrelas-do-mar por este mundo afora, que diferença faria o garoto? Chegou a pensar que ele era realmente retardado. O que representa uma estrela-do-mar na vida deles? Infelizmente, o velho homem não percebeu que pequenos atos podem salvar vidas. Que podemos fazer a nossa parte. E que gestos simples nos tornam importantes para alguém e para si mesmos. Ele nunca tinha ajudado o próximo. Diziam que tinha problemas com a bebida. Era rejeitado pela comunidade. Mas não tinha culpa de sua ignorância. Afinal, a vida o tinha moldado daquela forma. Bruta, sem nenhuma lapidação. Ignorante por opção.
Roberto Mac Intyer Simões
31/12/2007
3 comentários:
Essa e uma grande ideia. Todo mundo deveria pensar e agir assim. Exsite um grande vazio entre o pensamento e a acao. As pessoas sabem disso mas agem de outra forma. E preciso escola para ensinar as pessoas a nao deixarem um espaco entre a mente e o corpo. Quero dizer, que se voce falar com as pessoas sob reciclar lixo, todo mundo concorda. Mas depois, jogam uma lata de coca da rua. Falta educacao para saber que, se cada um fizer a sua parte, o mundo vai ser melhor para todos. Essa e a ideia. Eu faco isso. Tento nao errar nas coisas que faco. Jogo as estrelas de volta pro mar. Essa e a minha religiao. Porque esse e o meu mundo, e esse e o meu povo!
É fácil rejeitarmos o que não conhecemos ou não entendemos. culpa da sociedade, da educação falha, da falta de cultura. culpa de todos nós. instantaneamente bloqueamos pessoas da nossa vida, simplismente pq não as entendemos.
Você tem uma sencibilidade para perceber isso e uma boa forma de passar sua percepção para texto.
voltarei sempre, continue escrevendo.
um abraço da sua velha amiga..
ei Ro, eu gosto mto desse conto, um bem parecido c/ esse é o conto do beija-flor, conhece??
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