sábado, janeiro 19, 2008

LEITO DE MORTE



Sentiu uma forte dor no peito. Aguda, sufocante. Não era a primeira, nem a segunda vez. Na verdade aquilo o incomodava à alguns dias. A guerra o atormentava. Sua família dizia que ele não tinha condições físicas nem psicológicas para enfrentar momentos como aqueles. No fundo, sabiam que ele não iria voltar. Mas guerra é guerra, e ele foi recrutado para defender a bandeira de sua nação. E após anos e várias vezes entre a vida e a morte, resolveu finalmente se tratar. Percebendo que estava entre a vida e a morte, renunciou e encostou seu fuzil pela ultima vez. Rapidamente foi internado no ambulatório de sua frente de batalha. Deram-lhe remédios e sedativos. Morfina. Muita morfina. E em um estalo de lucidez, em meio aqueles vários dias a esmo, perguntou ao médico: - Doutor, vou morrer? Não houve tempo nem de ouvir a resposta. Caiu novamente no mundo do subconsciente. Dizem que, para muitos, os últimos segundos da vida duram uma eternidade. Toda nossa vida é lembrada como se fosse um flashback. Dos piores aos melhores momentos. Momentos felizes, vergonhosos, gloriosos, enfim, momentos marcantes, inesquecíveis. Para este soldado ferido em combate não havia de ser diferente. Pensou em sua família, escola, amigos e na guerra. Refletiu sobre a merda de vida que viveu. Sobre a merda de guerra que serviu. Nas vidas que tirou. E chegou à conclusão que a melhor coisa que lhe poderia acontecer era realmente ir para o céu. Mal sabia ele que pessoas de sua estirpe não tinham lugar no céu. Mal sabia ele que o céu não existe. E em seu leito de morte, chorou por tudo que fez. Entendeu porque mesmo sedado sentiu uma forte dor no peito: o arrependimento. “Faria tudo diferente!”, pensou. Mas já era tarde. Sua vida já havia passado, e seu fim estava próximo. Realmente, estes foram os segundos mais longos de sua vida. E os mais conturbados.

2 comentários:

Renato Vargas Simoes disse...

Viu so?! Quem mandou? Agora guenta.
Depois eu comento com mais calma...

Renato Vargas Simoes disse...

Billy: Fico me perguntando como uma pessoa pode se tornar um soldado. Nao existe nenhuma outra profissao tao idiota como essa. O soldado nao pode pensar. Isso basta? Nao pode ter opnioes. So obedece ordens. Como alguem se sujeita a isso? Por isso seu conto nao e verdadeiro.O soldado nao se arrepende. Ele nao sabe o que faz ou porque faz. Ele e o resultado de um sistema que fabrica esse tipo de pessoas para essa fucao. Sao como os cachorros nos paises ricos: doutrinados. Ensinados a serem idiotas. A humanidade sempre produziu soldados. Infelizmente. Hoje em dia, o sistema capitalista nao so fabrica soldados para a industria armamentista. Ele fabrica soldados para comer Mc Donalds e comprar no Wall Mart. Por isso e um sistema nefasto. Como disse Fidel Castro: que saudade do comunismo!