Transcorria o ano de 1981 e o mês era abril.
Eu havia combinado com o senhor Mário Corbucci de ir trabalhar o gado e fazer um balanço em sua fazenda, a Dois Córregos, no município de Selvíria, Mato Grosso do Sul. Combinei também levar cinco animais petiços que pertenciam a meus netos e que eu cuidava. Os animais estavam no sítio Dois Irmãos de propriedade de meu genro Olívio Voltolini, em Sud Menuci.
Na minha passagem por Pereira Barreto encontrei um caminhoneiro conhecido que estava transportando gado de Mato Grosso. Para evitar problemas na fronteira dos estados fiz um acerto com ele:
- Depois de amanhã estarei te esperando às 10 horas na boca da ponte da usina hidrelétrica.
Ele concordou e posei aquela noite em Bela Floresta e na noite seguinte, posei na Fazenda Caçula que faz divisa com Ilha Solteira. Ao amanhecer, do dia fui procurar a ponte onde cheguei as oito e meia. Procurei um barranco para o caminhão encostar, desencilhei o animal em que estava montado, ensaquei o arreio e fiquei esperando pelo caminhoneiro. Os animais ficaram pastando por ali e eu cuidando. As horas foram passando dez, meio dia, duas da tarde, quatro, sete da noite e nada do caminhoneiro, e eu só com o café da manha.
Durante a noite fiquei marcando no relógio 40 minutos, uma hora e não passava nada na ponte. Encilhei o cavalo Baguari, o que não era petiço, montei, joguei os outros quatro na ponte e meti-lhes arreador, fui a galopito. Quando fui passando pelo primeiro guarda ele estava bem sonolento e só levantou a cabeça mas não disse nada. Eu apurando cada vez mais os petiços.
O segundo guarda ouviu o tropel dos animais e saiu da guarita. Enquanto passava ele gritou:
- Ô velho, para onde tu vais?
- Vou pro leste! – respondi, cada vez mais apertando os petiços e pensando: meu Deus, que ponte comprida.
Quando sai em território mato-grossense tive muita sorte e não encontrei nenhuma condução. Joguei os petiços no costado da cerca à esquerda, abri o aramado e entrei na fazenda da Unesp e fui sair em Selvíria para não passar no posto aduaneiro. Peguei a estrada boiadeira e dois quilômetros depois desencilhei o Baguari, armei a rede na cerca do corredor e esperei o dia clarear.
Para mim foi a ponte mais comprida do mundo.
Do Livro “Memórias de um Boiadeiro”, de Abraão Vinhas
FORA DA INTERNETE
Há 7 anos
Um comentário:
Para quem aprecia e respeita os acontecimentos do passado eu indico está leitura , não somente desta passagem ,mas do livro todo, interessante leitura
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