sábado, novembro 08, 2008

A SOPA

I
O prisioneiro estava ha mais de uma semana sem comer. Só agua. Estava pele e osso.
Quando o guarda entrou na cela, trazendo dois pratos de sopa, ele estava semi-morto. O guarda colocou os pratos de sopa no chão e ficou de longe olhando. Em um esforco supremo o prisioneiro se arrastou para perto da comida, gemendo. Nesse instante, o guarda falou que um os pratos continha um veneno mortal. O prisioneiro, desesperado, arregalou os olhos. Cheirou um dos pratos: legumes e carnes temperados com cebola e alho; fumegante. Cheirou o outro prato: nenhuma diferença. Alucinado, arrastou-se de volta para o canto da cela e escondeu a cabeca entre as mãos. O guarda pegou os dois pratos e saiu sorrindo. No dia seguinte foi a mesma coisa. E no outro dia também. Como o prisioneiro não mais se mexia, o guarda pegou um dos pratos e sorveu a sopa quente estalando a lingua no final de cada gole. O prisioneiro, caído no canto da cela, soluçava e abraçava a cabeça com os ossos dos braços.


II
A agonia era demasiada. Era um prisioneiro ou um cachorro? O psicológico estava em jogo. Mais o instinto humano prevalecia. Aliás, neste situação qualquer resto apodrecido de comida virava acepipe. Estava com sede. Sua porunga estava vazia a dias, e não lhe davam de beber. O corpo fraco, a cabeça ficando pesada. Enfim, comer ou não comer? O guarda havia comido. A loucura tomava sua mente. A tortura não mais lhe dava nem comichão. Iria morrer de fome naquela cela lúbrica e sombria ou de agonia? Resolveu comer a maldita sopa. Aguardou a próxima refeição perto da portinhola. Horas mais tarde, o guarda lhe entregou dois pratos. Sorveu a primeira colherada. Nada aconteceu. Bebericou a sopa tão rapidamente que até queimou os lábios. Sentiu-se forte novamente. aproximou-se do segundo prato, mas o guarda lhe alertou: "Você teve sorte! Melhor não comer o segundo prato..." Dias depois o prisioneiro morreu sem acreditar no jogo do veneno. Não é todo dia que temos a sorte de viver. Naquelas circuntâncias, tanto faz. A condenação já havia sido dada. O veneno somente aliviou o peso da sentença: a prisão perpétua.

Por Renato Simões e Roberto Simões

Um comentário:

Renato Vargas Simoes disse...

uhauhuahuahuauhuahuhauhua
ficou bom mas muito serio e triste. Eu estava pensando em alguma sacanagem mais leve. Em todo caso, valeu parceiro! uhauhuhauauhauhua