Primeira semana de aulas na faculdade. Todo mundo perdido, literalmente. A república estava uma zona, os integrantes se conhecendo. Era fim de tarde de uma quarta-feira, o sol já se pondo. Um dos primeiros de vários de minha vida universitária. E a campainha tocou. “Aow bixão, cêis tem gelo?”, disse uma voz feminina. Meu amigo entra na república dando risada, dizendo que duas garotas, com cara e jeito de quengas, estão precisando de gelo. Retribuo a risada, mas não saio do lugar. Ele entrega o gelo e entra na casa. Comenta que faltam alguns dentes na boca das coitadas e que suas roupas vulgares por demais. Por instantes, pensei que Ilha Solteira fosse desse jeito. E realmente não era muito diferente. Meia hora depois, a campainha toca novamente. São as meninas, agora acompanhadas dos “caras” da republica do final da viela, o Topeira e o Calcinha. “Aê bixarada, tá rolando festa lá na rep, vâmo lá conhecê o pessoal. Integração bixarada, integração!” Não tinha como dizer não. Bixo é bixo. Não tem direito de falar e muito menos retrucar nada. Além do mais, ser convidado para uma festa era algo raro naquela época. A republica estava lotada. De homens, lógico. Duas ou três perdidas somente. Comum, apesar de eu nunca ter me acostumado. “Bixão, cê sabe fazê caipirinha?”, me pergunta o Topeira. Respondo que não. Sabia, mas era melhor falar que não mesmo, para não sofrer abusos. Ele me leva na cozinha, pega uma jarra, um litro de “Velho Barreiro” e diz: “É só colocar um pouco de gelo e Tang. Muito fácil! Que sabor você gosta?”. Eu sinceramente nunca tinha visto aquilo. Caipirinha se faz com limão (ou qualquer outra fruta macerada), uma dose de pinga ou vodka, gelo e açúcar. Talvez um pouco de água, se a mistura ficar forte. Pronto, tem-se uma legitima caipirinha. Mas universitário de Ilha Solteira faz diferente. Um litro de pinga, um saquinho de Tang e gelo, somente porque o calor da cidade era infernal. Só por isso mesmo. Logicamente, me fizeram beber aquele veneno. Gasolina seria melhor. Mas na medida que o pessoal ia ficando bêbado, eu fingia ainda mais que “estava” bebendo. Colocava bastante gelo e água no meu copo, sem ninguém ver, mantendo-o sempre cheio. Minha sorte foi que os bixos que serviam os veteranos. Éramos servos. Portanto, ninguém enchia meu copo. No final da noite, eu tinha bebido no máximo uns dois copos da bebida destruidora. Diluída, obviamente! Mas meu companheiro de rep bebeu demais. “Tomou todas”, como dizem. Levei-o para casa escorado em meu ombro, cambaleando muito. Tive que dar banho no cara e tudo mais. Acho que nem glicose resolveria a situação. A história termina as 7 e meia da manhã da quinta-feira com meu amigo dormindo roncando no tapete da sala com a escova de dente ainda com pasta numa mão e na outra a toalha molhada. E eu tomando um café bem forte para ir à aula. Acho que foi mais ou menos assim. É, realmente, vida de universitário é foda!
FORA DA INTERNETE
Há 7 anos
Um comentário:
uhauhauhuauhauhuahauua tudo continua como sempre foi! isso nao piora nunca? que coisa, nao?
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